'/> CETADEB Londrina - Califórnia. Teologia ao alcance de todos. Básico, Médio e Avançado.: Ter Ética: Dever, Não Um Mérito

14 novembro 2013

Ter Ética: Dever, Não Um Mérito

Por Levi Brackman
As ruas estão tomadas quase que diariamente em todo o país. Um despertar do gigante adormecido. As postagens são de que finalmente “a ficha caiu”, “a bolha estourou”, “não são os 0,20” etc. Muito significativo e histórico o momento que estamos vivendo: o povo unido sai às ruas, sem partido, para reivindicar por causas justas em benefício de todos. Basta de corrupção, impunidade, injustiças, insegurança e aumentos abusivos. A vida ficou cara demais e perigosa demais. Infelizmente junto a estas passeatas assistimos a um cenário paralelo, sem precedentes, de roubo e destruição. Na onda, surgem os tubarões que na maré das massas se aproveitam para depredar o patrimônio público, roubar, matar e sair impune espalhando revolta e indignação. Onde está o controle e para onde a falta dele irá nos levar?


Seguem trechos do livro do Dr. Meir Tamari, Economista-Chefe do Gabinete do Presidente do Banco de Israel em Jerusalém. Talvez possam mostrar a contribuição que o judaísmo pode dar ao mundo sobre moral e ética, base para uma sociedade equilibrada com alicerces firmes que fornecem o combustível para impulsioná-la para a frente em paz e ordem, com amor e segurança. Afinal no judaísmo ter ética é um dever, não um mérito.

A ganância e a inveja que conduziram às rivalidades e ao derramamento de sangue nas épocas antigas ainda existem. O desejo insaciável de riqueza do homem continua dominando-o e, por esta razão, deve ser tratado. Assim como os problemas permanecem os mesmos, as respostas da Torá também são as mesmas. O que se faz necessário é traduzir os textos a fim de demonstrar sua relevância para a nossa economia mercantil.

A base de qualquer economia é a proteção dos direitos de propriedade de todos os envolvidos no comércio: comprador e vendedor, empregador e empregado, fomentador e comunidade. Seu efeito prático pode ser observado atualmente em muitos países em desenvolvimento, que não conseguem obter investimentos ou intensificar seu comércio exterior por falta de uma estrutura legal. E fácil argumentar, como Maimônides, que as leis mosaicas contrárias aos negócios desonestos (que, de fato, privam uma das partes de suas propriedades, simplesmente como sanções racionais e 1ógicas) são essenciais à existência do comércio. Isso, contudo, colocaria a moralidade das transações judaicas em equivalência com aquelas dos ensinamentos de outras religiões ou, então, em igualdade com qualquer pessoa secular, moderna e honesta. Nesse campo, como em muitos outros, não são as semelhanças que importam, mas sim as diferenças, que derivam dos princípios judaicos básicos.

A maioria dos comentaristas bíblicos nota as injunções contra roubo como revelações de sabedoria Divina, que vão muito além dos aspectos racionais ou sociais. Por meio dessas leis, a desonestidade se transforma numa transgressão contra a vontade de D'us, uma aberração espiritual, acima e além dos aspectos legais do crime cometido ou do dano causado. Consequentemente, a retaliação Divina deve perseguir esses crimes, assim como acontece com qualquer outro desvio humano de Sua lei.

Este aspecto se torna claro quando lemos o comentário dos sábios talmúdicos, mostrando-nos que o destino da geração do Dilúvio só foi selado por causa de Chamás (roubo ou furto), mesmo de objetos sem valor intrínseco. O Rebe chassídico de Sochochov perguntou por que seria esta a causa do Dilúvio, uma vez que temos conhecimento de que aquela geração realmente cometera os três mais graves pecados - idolatria, adultério e assassinato - para os quais a penalidade é a morte, enquanto que tal punição não se aplica ao roubo. Respondendo a essa questão, ele explicou que o roubo é o começo do esfacelamento de toda uma estrutura que culmina nesses três pecados fundamentais. Assim, foi o roubo que selou seus destinos.

Uma vez que os judeus são conhecidos como portadores da palavra Divina para o mundo, a sua desonestidade nos negócios reflete na Sua desonra, um ato de Chilul Hashem (a profanação do nome Divino). Pela Halachá, somos absolutamente proibidos de tomar qualquer atitude que possa resultar em tal profanação. Assim, o comportamento comercial deve ser examinado minuciosamente em função do efeito que possa ter sobre a compreensão e o respeito humano por D'us. Isso se expressa positivamente na forma de Kidush Hashem (a santificação do nome Divino), normalmente associado ao martírio e à perseguição dos judeus. No entanto, há o Kidush Hashem também no comércio: nos negócios, somos obrigados a nos comportar como testemunhas da Sua grandeza e do Seu reino.

A Halachá também trata desse tema. Contudo, o efeito do crime sobre o próprio criminoso ou o aspecto moral de ações que não podem ser retificadas no tribunal são normalmente ignorados em nossa sociedade. Depois de qualquer escândalo comercial ou crime relacionado aos negócios, frequentemente ouvimos o argumento de que as pessoas devem ter conhecimento de como os negócios precisam ser conduzidos e, por isso, as próprias vítimas têm de arcar com o peso da culpa. Já foi sugerido que, talvez, tais indivíduos nem devessem estar no comércio. Respeitáveis jornais financeiros chegaram a dizer, por exemplo, que o uso de informação confidencial nas transações da bolsa de valores constitui-se num crime sem vítimas; logo, as pessoas que o praticam não deveriam ser condenadas.

A Torá, contudo, tem muito a dizer sobre o dano causado ao próprio ladrão pelas suas atitudes, somando-se à questão do prejuízo material causado pelo roubo em si. Quando o roubo é reconhecido como um crime contra D'us, com todas as suas conotações religiosas, então continua sendo um crime, mesmo quando a sociedade o tolera ou reconhece áreas obscuras socialmente aceitáveis. Furtos, por brincadeira ou simplesmente para causar aborrecimento, mesmo que sejam de objetos insignificantes, são proibidos, porque D'us assim o ordenou.

No mundo dos negócios existem inúmeros exemplos de atitudes halachicamente proibidas. Por exemplo, quando produtos com defeitos são vendidos ou quando qualquer forma de deturpação está envolvida, sendo omitida ao comprador, o vendedor é culpado de cometer Guenevat Daat (literalmente, “roubando o pensamento da pessoa”)...


Chabad